História de um minimalista tentando superar a morte do seu gato


Sexta-feira encontrei meu gatinho mais novo morto com sinais de envenenamento. Não vou entrar nos detalhes dessa história, que ainda dilacera o meu peito e causa muita revolta, mas vou compartilhar um pouco deste processo de superação da perda de um animal de estimação.

Apesar de ser apaixonada por bichos, somente ao morar sozinha pude ter um. Já fazia ideia do quanto a vida animal é frágil e participei de algumas histórias bem tristes. Mas a verdade é que nada te prepara pra lidar com o vazio de uma perda trágica e repentina.

Os últimos dias foram bem difíceis. Fechamos a casa e abandonamos a dieta, nos refugiando com nossa gatinha mais velha para lamber as feridas em família e tentar entender tudo que aconteceu... Será que poderíamos ter feito algo diferente? Poderíamos salvá-lo?

Nesse momento eu percebi o quanto mudar o estilo de vida me transformou. Provavelmente há alguns anos isso seria o começo de outra crise depressiva. Mas agora tudo está diferente. A dor é profunda e inexplicável, mas por outro lado há força e aceitação de que a vida tem maneiras estranhas de agir.

Parece que minha mente foi "particionada" de certa forma. Razão e emoção não se confundem com tanta facilidade. É possível respirar fundo, reagir com certa frieza e depois chorar horas para aliviar a tensão.

Ao mesmo tempo que, em meio aos pensamentos ruins, surgem novas ideias. Será possível transformar o sofrimento em algo significativo? E se adotarmos mais um gatinho? E se ajudarmos uma ong?

Hoje me vi saindo do mercado com uma sacola para o mendigo que estava na porta com seu cão. Ironicamente o cão tinha ração, enquanto o mendigo morria de fome. Estou contando isso porque nunca antes observei a realidade com tanta clareza. Pela primeira vez pensei espontaneamente em transformar minha tristeza em algo construtivo. E como isso faz bem.

Agora parece já ser possível pensar no futuro... Por que não adotar um novo bichinho? Quantas vidas abandonadas sem a sorte de uma família para amar.

Sabemos que nenhuma vida é igual a outra e ninguém é substituível (nem mesmo os animais). Mas é possível redirecionar a atenção, o cuidado e dessa maneira trazer um novo sentido para seu dia a dia.

Entendi que o minimalismo faz isso com a gente. Não muda a dor, não faz com que doa menos, mas mantém a lucidez no presente e abre nossos olhos para as oportunidades e caminhos capazes de construir um novo amanhã.

Desculpem se pulei todo processo de sofrimento. Mas começo a perceber que este é um sentimento insistente e que não passa apenas com base na vontade. Eu ainda não superei a morte do gato. Ainda o vejo pela casa, sempre dócil e carinhoso. Penso em tudo que poderia ter feito para evitar a tragédia. Se ao menos tivesse um pouco mais de tempo...

Sei que vai demorar um pouco, mas é preciso sentir essa dor, chorar sempre que tiver vontade e deixar que o tempo cure as feridas. Afinal quem amamos sempre deixará suas marcas em nosso coração, sejam humanos ou peludos.

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